Dom Edilson: ‘bispo não é príncipe, não consigo me ver como uma pessoa longe do povo’

Recebido com festa neste sábado, 1º, em sua chegada a Oeiras, Dom Edilson Nobre reuniu a imprensa para uma entrevista coletiva, na manhã deste domingo, no Palácio Episcopal.

Na conversa, o novo bispo da Diocese de Oeiras falou sobre as primeiras impressões sobre a cidade e lembrou sua trajetória como sacerdote no Rio Grande do Norte. Dom Edilson também falou sobre a distância da família e da expectativa para a Semana Santa em Oeiras.

O Mais Oeiras destaca abaixo alguns trechos da entrevista. Confira:

Primeira impressão

A impressão foi a melhor possível. Muito antes de chegar, comecei a sentir o calor humano das pessoas do Piauí e, de modo especial, das pessoas desta diocese. Quando cheguei na primeira comunidade que faz parte desta diocese, São João da Varjota, senti o calor humano daquelas pessoas, felizes, alegres, cantando, com faixas, carro de som. Externando o sentimento de alegria pela acolhida do seu bispo. Isso é muito gratificante.

Teve um momento que muito me emocionou: quando um cantador de viola fez uma acolhida de uma forma muito criativa e aquilo tocou-me profundamente. E sobretudo os gestos das crianças, dos idosos, das pessoas que vinham ao meu encontro. O que aconteceu foi muito além da minha expectativa. Eu não imaginava, pelo fato de ser uma pessoa completamente desconhecida, poderia ser acolhido de forma tão calorosa.

Me deram até um bispo-móvel. Quando cheguei na entrada de Oeiras, me chamaram para subir naquele carro e fico meio sem jeito, porque me lembra algumas situações que eu não acho interessantes. Quando as pessoas querem se projetar e isso não é muito característica de quem prega o evangelho, mas eu entendi como um jeito fervoroso e carinhoso das pessoas de acolher o bispo e o modo de dar visibilidade, de possibilitar as pessoas que estavam nas suas casas de ver com mais facilidade o bispo. Dentro dessa perspectiva, eu subi naquele carro e vim. Serviu também para já conhecer um pouco a cidade, e por onde ia passando percebi a alegria das pessoas. Todo mundo fotografando, todo mundo filmando…

Cada vez que eu ia me aproximando da Catedral, maior era o número de pessoas. Quando cheguei na residência episcopal, já tinha um aglomerado imenso de pessoas, autoridades, como também lá no portal. Isso tudo foi muito gratificante. Mostrou o calor um humano das pessoas do Piauí, de modo especial, das pessoas da diocese de Oeiras.

“Quando deu o meu “sim”’

Enquanto eu fazia a leitura, olhando aquelas pessoas que se manifestavam, que demonstravam tanta alegria, pensava comigo mesmo da responsabilidade, que eu tinha que corresponder a uma expectativa que foi criada. Estou muito consciente disso. Na verdade, desde quando deu o meu “sim”, eu dei o “sim” consciente. Porque o meu desejo era dizer “não”. Não porque tivesse algo contra Oeiras, porque eu não conhecia Oeiras, mas o não pelo fato de ser bispo. Ser padre para mim era tudo, desde criança eu já imaginava ser padre. E tudo aquilo que eu fazia no exercício do meu ministério, eu fazia com muita alegria, então por isso que eu me sinto um padre feliz, são 26 anos de exercício do ministério sacerdotal.

Tive a alegria e a grata satisfação de passar por várias paróquias: eu fui padre do sertão, fui padre do litoral, fui padre do agreste. Deus me deu a graça de ter também uma experiência fora do Brasil, para conhecer outras realidades, outras culturas. A gente enriquece também com isso, abre e alarga os horizontes da gente, sem perder as raízes. Nunca perdi minhas raízes porque fui a Roma.

Mas eu digo que o curso que fiz lá, que foi Comunicação Social, me ajudou bastante, principalmente, porque eu fiz numa universidade que tinha os padres e os professores muito pé no chão, que entendem a comunicação numa perspectiva não de preparar as pessoas simplesmente para a mídia, mas sobretudo nessa perspectiva de que nós que trabalhamos na Igreja somos comunicadores da palavra e temos que ter o cuidado e zelo na forma de trabalhar essa comunicação. Em todos os sentidos. Não é apenas a comunicação da palavra enquanto estamos no púlpito, mas no dia a dia, nas relações interpessoais e o curso me ajudou muito nisso. Acho que cresci bastante e as experiências diocesanas que tive também na Arquidiocese de Natal, acredito que também me ajudou no processo de crescimento, porque além de vigário eu também exerci funções diocesanas.

‘Bispo não é estrela’

Fui vigário geral desde quando Dom Jaime chegou, em 2012. Então fiquei acumulando vigário geral, setor comunicação. Depois eu já comecei a sentir saudade da paróquia, que de fato me encanta bastante. E aí foi quando, de fato, assumi uma paróquia em Natal, dentro da capital num bairro chamado capim macio, Paróquia de Santana. O que passava pela minha cabeça: Dom Jaime tem mais cinco anos, eu poderia continuar vigário geral ainda nesses cinco anos, não sentia que tivesse arranhões na relação para que eu não continuasse. Então, provavelmente eu continuaria vigário geral, uma vez terminada essa função, eu me voltaria exclusivamente para a paróquia. E aí eu terminaria minha vida. De repente, veio o impacto, algo que não tem explicação, quando recebi a ligação da Nunciatura.

Quando de fato caiu a ficha que era o anúncio de que o Santo Padre estava me nomeando bispo da Diocese de Oeiras…dia 20 de dezembro, pela manhã, nove e pouco da manhã. Eu entendi o seguinte: se eu demorasse, ia sofrer mais e depois foi deixado muito claro que não podia demorar, eu tinha que decidir. Eu podia pensar. Quando desligou o telefone, minhas pernas tremeram. Nunca senti tanta dificuldade na minha vida.

Desde o dia 21 até o dia 11 de janeiro foi aquele momento de sacrifício, de angústia, porque eu não podia partilhar nem com os colegas o que estava acontecendo, nem com a família. Minha família mora no interior, mas deu para ir pra casa, mesmo tarde a gente se encontrou…mas não pude dividir, tive que cumprir aquilo que foi determinado, sob sigilo pontifício. E assim guardei. O dia 11 de janeiro foi um dia tremendo. Pra mim, foi o dia em que as pernas mais tremeram. Na hora do anúncio da minha nomeação, mas aí eu vejo como Deus é bom, como Deus age. Fui me acalmando, fui rezando, fui sentindo que as pessoas rezavam por mim, fui sentindo que Oeiras começava a rezar pelo bispo, mesmo sem conhece-lo. Fui sentindo que a Arquidiocese chegou muito junto, pelas orações e por tudo que fez em função da minha sagração. Nem aqui e nem lá, eu não dei um pitaco. Eu não disse nada que queria, nada.

Depois que eu fui sentindo essa tranquilidade, que as pessoas estavam rezando. Meu retiro foi muito bom, não chamei pregador, eu quis faz um retiro sozinho, um diálogo entre eu e Deus, para me acertar com Ele. Lá no Mosteiro das Carmelitas, que fica perto do cemitério Morada da Paz, que me ensinou a rezar para não me envaidecer, porque agora está sendo bispo, achar que é estrela, não vejo dessa forma. Bispo não é estrela, ele é chamado para ser o sucesso dos apóstolos, que tem uma missão desafiadora e que deve dar continuidade a esta Igreja que foi pensada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Não penso em ser príncipe. O Papa Francisco já tem disso muito isso aos bispos e eu estou dentro dessa concepção: o bispo não é um príncipe, eu não consigo me ver como uma pessoa longe do povo. Não consigo.

‘Eu tenho uma mãe que tem 80 anos, tem Alzheimer’

No dia da minha sagração, eu estava muito tranquilo, muito sereno. O coração não acelerou em nenhum momento, só no discurso final, quando a gente fala de família. Se distancia, essa parte é mais difícil. Como dizia lá no discurso: eu tenho uma mãe que tem 80 anos, tem Alzheimer, minha mãe nem sabe o que está acontecendo. Meu pai tem 80 anos e está muito mais acabrunhado hoje, mais doente, por causa da doença da minha mãe. Porque ele sofre, o Alzheimer faz a família sofrer. Os primeiros momentos são muito difíceis.

[emocionado] Na véspera da minha vinda, eu fui em casa…tava minha mãe brincando de boneca. Não sabe mais nem que tem um filho padre, quanto mais bispo. O único que, provavelmente, ainda conheça é o meu pai. Ela chega o acaricia, o beija, fora isso não tem mais a consciência de nada. Então isso é mais difícil, tirando isso, o espírito de missão em mim é muito maior. Apesar do afeto que tenho pela Igreja de Natal, porque fui gerado ali, apesar dos vínculos que eu tenho com os padres paroquianos, isso não pesou. Mas Deus é quem nos fortalece, é quem nos ajuda, é quem nos encoraja e vamos começar uma boa história.

‘Vou fazer a pregação do encontro, na procissão do Senhor dos Passos’

Estou muito curioso para ver de perto como é a Semana Santa aqui, já vi a programação, sei que ela é muito intensa e conversando com o padre Juvenal, que foi me buscar em Natal, ele já me passou um pouco de como funciona a programação da Semana Santa. A riqueza, a intensidade, que atrai pessoas não só da cidade, mas de toda a região. Estou nesta expectativa. Vou fazer a pregação do encontro, na procissão do Senhor dos Passos.

Ainda não pensei em nada, pensei em preparar essa pregação lá, mas quando a gente prepara com muita antecedência para um contexto que a gente ainda não conhece de perto, eu acho que sai muito seca. E pensei: quero chegar mais perto, quero respirar o clima de Oeiras para poder, a partir dos primeiros contatos, das primeiras experiências vividas pensar que palavras dirigir àquela multidão que vai estar ali na praça. Não sei ainda o que vou dizer. Espero que o Espírito Santo me ilumine e poder dirigir palavras que toquem o coração e que mantenham a esperança desse povo. Eu acho que, acima de tudo, a gente tem que ajudar o povo a se manter firme na esperança.

 

 

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